quinta-feira, 18 de setembro de 2008

EU QUERO APRENDER A “OLHAR DEVAGAR”...



Vivemos os tempos da pós-modernidade...tempos de “pouco tempo”, onde a pressa dita as normas de uma vida sem paciência. Estamos com a “vista cansada”!!! Estamos cansados de tanto ver e, assim, já não conseguimos enxergar...perdemos a nossa capacidade de simplesmente...olhar.
Saímos todos os dias das nossas casas, muitas vezes percorrendo os mesmos caminhos, porém não mais percebendo o encanto, as novidades, os espetáculos que o universo nos apresenta todos os dias. O mais sério disso tudo é que também somos incapazes de perceber as pessoas...banalizamos os olhares para os que nos cercam...é aí que mora o perigo da chamada indiferença, da falta de vontade em compreender o humano que habita no outro.
Como podemos aspirar à condição de “ser humano” se nos olhamos com tanta brevidade ou se nem mesmo somos capazes de nos olhar? Onde está a medida do homem para avaliar o seu semelhante? A medida de avaliação do ser humano pós-moderno está nas suas próprias necessidades...é “olho no próprio umbigo”, os limites estão bem claros.
No decorrer dos nossos dias, os “frutos amargos” são facilmente percebidos na nossa incapacidade de perdoar, nas dificuldades em nos abrirmos a um conhecimento mais profundo, na nossa falta de generosidade e insensibilidade diante dos sofrimentos e problemas do outro. Isso tudo vai enrijecendo o nosso coração com atitudes cada vez mais egoístas, que nos fecham e nos fazem mestres na arte dos julgamentos apressados e precipitados, fato que vem causando tantos estragos na alma humana.
Vou contar uma história para vocês:
Um homem tinha quatro filhos...ele queria que seus filhos aprendessem a não julgar as coisas, as pessoas, de modo apressado. Por isso, ele mandou cada um em uma viagem, para observar uma macieira que estava plantada em um local distante.

O primeiro filho foi lá no Inverno, o segundo na Primavera, o terceiro noVerão, e o quarto e mais jovem, no Outono.
Quando todos retornaram o pai os reuniu e pediu que cada um descrevesse o que tinham visto.
O primeiro filho disse que a árvore era feia, torta e retorcida.O segundo filho disse que não...ela era recoberta de botões verdes e cheia de promessas.
O terceiro filho discordou: disse que ela estava coberta de flores que tinham um cheiro tão doce e eram tão bonitas...ele poderia arriscar dizer que eram a coisa mais graciosa que ele jamais tinha visto.O último filho discordou de todos eles: disse que a árvore estava carregada e arqueada, cheia de frutas, repleta de vida...

O homem então explicou a seus filhos que todos eles estavam certos, porque eles haviam visto apenas uma estação da vida da árvore. E continuou:"Não se pode julgar uma árvore (ou uma pessoa) apenas em uma estação... a essência, a alegria e o amor que vêm daquela vida podem apenas ser medido ao final, quando todas as estações estão completas”. (Autor desconhecido)

Nós encontramos as pessoas ao longo da nossa existência em diferentes estações, como as quatro estações dessa história. Se desistirmos de alguém quando for Inverno, perderemos a beleza da sua Primavera, a alegria de seu Verão e a expectativa do seu Outono. Não podemos permitir que a dor e as tristezas de uma estação destruam o potencial de felicidade de todas as outras. Não julgue o outro, ou os acontecimentos, apenas por uma estação difícil.
Tudo o que nos acontece, e especialmente as pessoas que passam por nós, precisam de um olhar mais vagaroso, contemplativo. Esse é um olhar pouco comum e “nem sempre é fácil ser portador de um olhar raro. É mais fácil integrar a multidão e suas soluções simplórias” (Pe Fábio de Melo).
Jesus era portador desse olhar...um olhar raro, fascinante, que tinha (e tem ainda) o poder de “ver o que a multidão não via”. Ele procurava ver além...buscava na essência da alma de quem se aproximava d`Ele e encontrava as verdades escondidas no recôndito dos corações, tão feridos pelo tempo. Ele tinha (e tem ainda) a certeza de que “em cascalhos disformes e estranhos, diamantes sobrevivem solitários” (Pe Fábio de Melo).
Eu almejo este olhar...quero aprender a olhar devagar tudo o que me acontece e todos os que passam pelo meu caminho, porque tenho a confiança de que tudo pode ser modificado por inteiro, quando olhamos com bondade...quando temos o tempo suficiente e necessário para perceber, compreender e verdadeiramente amar.
Por tudo isso, Senhor meu Deus, eu peço a graça: "Pela doçura envolvente da Tua caridade, arrebata-me o coração e a inteligência para fazê-los aderir a Tua verdade”. Dá-me um olhar que, de tão vagaroso, possa eu contemplar a Tua face em cada pessoa que passar por meu caminho. Dá-me um olhar demorado, cheio de compaixão e pronto para sorrir para os que precisarem de mim. E assim seja...

Este texto foi inspirado no livro “Quem me roubou de mim” do Pe Fábio de Melo e no Exercício Espiritual
“O Pecado Venial” da minha querida Comunidade CEFAS, Londrina, 2008.