quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A NOSSA SAGRADA FAMÍLIA


Permitam-me falar sobre algo precioso em nossas vidas, a nossa sagrada família. Para começar essa reflexão, busquei o significado da palavra família e encontrei o seguinte: “é a unidade básica da sociedade, formada por indivíduos com ancestrais em comum ou ligados por laços afetivos”.
Gostei disso...ao afirmar que a família é “a unidade básica”, essa definição traz a responsabilidade dessa estrutura dar a base e o sustento para as outras partes da nossa sociedade. Ao dizer que é formada por ancestrais em comum, traz a noção da hereditariedade, mas, ao falar que também pode ser formada por pessoas ligadas por laços afetivos, nos remete à ampliação (sem limites) do conceito de ser família. Tem uma frase que reflete isso muito bem e diz, mais ou menos, assim: “amigos são os irmãos que podemos escolher”...eu acredito nisso. Belo, verdadeiro...porém, família é muito mais que isso!!
Família é solo sagrado, é esperança de mudar os rumos da história da humanidade, a partir das pequenas mudanças realizadas em nossa própria história. Família é o lugar onde podemos tirar as máscaras que vestimos, todos os dias, para “sobreviver” nas condições de competitividade que hoje são impostas a cada um de nós. Nunca podemos nos esquecer que é na família que buscamos o espaço para o equilíbrio necessário!
Família, lugar de transparência, onde a sinceridade, usada na medida certa, pode edificar grandes homens e mulheres. Falo da sinceridade com equilíbrio, sem exageros, pois, quando sou “muito sincera”, posso ferir o outro e trazer os frutos amargos das palavras, normalmente muito duras, resultando em mágoas acumuladas no decorrer da nossa história de vida familiar.
Família é território de realização de milagres...milagre da multiplicação do pão, quando a mesa está colocada para quatro pessoas e chega, inesperadamente, mais quatro e todos se saciam das delícias de uma comidinha caseira e feita na hora. Família é lugar de multiplicação do amor, é lugar de abraços, de aconchego... é refúgio do superficialismo do mundo. É onde “somos muitos, mesmo sendo dois” (Pe Fábio de Melo). É quando um fica triste e logo alguém começa a relembrar os momentos da infância, os “causos” familiares e, então, é impossível não se envolver e dar, pelo menos, um leve sorriso de nostalgia.
Família é lugar de diversidade, de contraste de pessoas tão diferentes. É onde se encontram aqueles que falam MUITO ALTO, com os que falam baixinho...encontro daqueles tão discretos junto àqueles que dão ALTAS GARGALHADAS por qualquer motivo. Encontro dos extremamente pessimistas com os que acham que tudo vai sempre dar certo. Assim os familiares se acham, se descobrem e são complementares. Mas como é difícil ao ser humano aceitar e conviver com as diferenças. Então, surgem os esbarrões, as intolerâncias e a coisa começa a complicar!
É muito triste constatar que na sociedade, que se intitula moderna, a família está sendo colocada de escanteio...o encanto está se perdendo na mentalidade do consumismo e no pensamento descartável das pessoas. Os milagres típicos da família estão sendo esquecidos...que pena!! Vivemos envolvidos com os apelos do mundo...o barulho estonteante da nossa rotina nos impede de ouvir o essencial.
Tudo é mais importante que a família...a troca do carro, do computador, do celular. Precisamos estudar cada dia mais...graduação, pós-graduação, mestrados e doutorados, nos deixando sem tempo para ser gente e para ser família. As casas, cada vez mais belas e repletas de conforto, vão ficando cheias de coisas e vazias de sentimentos...casas em que, muitas vezes, meros desconhecidos moram sob o mesmo teto!
É muito triste perceber que a indiferença reina triunfante nos corações e no seio da família. Esse fato fica muito claro nos momentos em que algum familiar precisa de ajuda. As pessoas “desconversam”, nem cruzam mais os olhares, com medo de que seja feito um pedido de contribuição...então, começa aquele joguinho de “faz de conta”, onde um faz de conta que ajuda e o outro faz de conta que acredita...assim, todos saem perdendo. Tenho certeza de que, no mínimo, perdemos a oportunidade de crescer como pessoa. Isso tudo gera insatisfação e frustração constantes!! Vivemos cansados e abatidos diante dessa realidade.
Temos aqui um agravante: as nossas crianças e jovens estão crescendo, observando esses sentimentos que predominam nas relações. E o que esperar delas na vida futura? Será que não estamos formando adultos confusos, com idéias frágeis e sem raízes? Temos que visualizar todos esses acontecimentos para além do que a nossa estreita visão pode perceber nos dias de hoje.
Eis os desafios da família que vive no século XXI, resgatar a humanidade das relações, permitir que as pessoas tirem suas máscaras, exponham seus sentimentos...é isso que nos refaz, que traz saúde para o corpo e para a alma. Quantos problemas poderiam ser evitados com um simples abraço ou na pureza de um sorriso que diz “eu estou aqui, pode contar comigo”. Nas dificuldades financeiras, muito comuns nos tempos atuais, não precisamos só do dinheiro para superar os obstáculos...necessitamos da palavra do bem, que traz conforto para o nosso coração..isso é MUITO mais importante!!!
Precisamos restaurar nossas famílias...restaurar o ser humano “estragado” e ferido pelas maldades do mundo. Toda essa restauração deverá ser feita com muito cuidado para não machucar, vamos tirando as “camadas” de mágoas, de tristezas e de falsidades, com muita paciência, para deixar exposta a nossa natureza divina.
Isso não vai acontecer em um passe de mágica. É preciso achar tempo para ser família! Temos que cuidar...chamar o amor para fazer morada em nossas casas. Mas como almejar tal façanha? “Quanto mais próxima de Deus melhor a família saberá ser um caminho original, rumo ao sentido sagrado, perdido pela sociedade moderna”(Pe Léo Pereira). Essa é a aliança perfeita...Deus e família, sacralizando tudo e todos na medida do amor humano que, aos poucos vai se transformando no amor divino.
Deus está presente...”Ele está no meio de nós”, impregnado em nossa alma, na nossa casa, nas nossas festas, nos nossos momentos de tristezas...Sua presença pode ser sentida, tocada, basta querer. Deus se faz presente cada vez que eu dou um sorriso, cada vez que eu falo uma palavra de consolo. Esse é o projeto original de Deus para a nossa humanidade. Precisamos descobrir o que será necessário mudar para que a santidade da nossa família seja resgatada!
É preciso ter coragem, firmeza e perseverança. De um modo muito concreto, devemos ser , ao modo de São Francisco, um instrumento da paz, fazer o amor superar o egoísmo, a inveja, o ciúme. Devemos trazer luz para as sombras das nossas falhas.
Família é lugar de sonhar...e que sejam belos os sonhos que serão realizados na concretude do nosso dia a dia, no seio da nossa geração e das outras tantas gerações que virão após nós.


Que a nossa família possa ser restaurada pelo poder do amor!
Obra contínua e constante!
A cada dia daremos mais um passo na longa jornada.
E que a família seja um espaço onde sempre cabe mais um
Que ela cresça em “tamanho, graça e sabedoria”, feito o nosso doce menino Jesus
Que se acheguem e sejam acolhidos os “amigos irmãos”, os genros, as noras, os primos postiços e outros
Que a graça de Deus nos ilumine e nos proteja
E que a sabedoria seja a nossa guia na procura de ser um exemplo para o mundo...na busca de ser uma Família Sagrada . Amém!!

Abraços, com carinho!
Fátima Regina


** Esta reflexão foi inspirada na leitura da obra”Famílias Restauradas” de Pe Léo Pereira (SCJ), publicada pela Editora Canção Nova. Obrigada, Pe Léo, pelo legado de sabedoria que o senhor nos deixou!