quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

CARNAVAL...TEMPO DE ALEGRIA? QUARESMA...TEMPO DE TRISTEZA?


CARNAVAL...TEMPO DE ALEGRIA?


O carnaval, uma das festas populares mais famosas do Brasil, nossa amada “terra de samba e pandeiro”, guarda uma beleza cultural admirada no mundo inteiro. Mas sejamos sinceros...essa beleza cultural anda meio que esquecida e ofuscada pelos “excessos” cometidos durante esses dias de “alegria”.
Festa esperada por tantos brasileiros para curtir um feriadão prolongado e descansar dos “desgastantes” primeiros dias de trabalho do ano, afinal no nosso país “tudo começa depois do carnaval”! Para muitos a festa é feita de intensidade, puro prazer...são dias que guardam as delícias do vale tudo, dias para aproveitar e beber todas, beijar MUITO e quem sabe o que mais poderá acontecer, depende da sorte de cada um!!
Mas você sabe a procedência dessa festa? Acredita que a festa carnavalesca tem origem no calendário da Igreja Católica? Surgiu no século XI, a partir da implantação da Semana Santa, que é antecedida por 40 dias de jejum, período denominado Quaresma. Esse tempo de privações e penitências acabou por estimular a reunião das pessoas em torno de diversas festividades nos dias que antecediam a quarta-feira de cinzas, o primeiro dia da Quaresma.
Eis que surgiu essa grande festa que vem da expressão "carne vale" e acabou por formar a palavra "carnaval". Parece bem verdadeira a origem da palavra, não é mesmo? Pelo menos para o povo brasileiro...pessoal intenso...até parece que o mundo acaba na quarta-feira de cinzas...tudo deve e pode ser feito, antes desse dia “pavoroso” chegar!
Só não pode faltar a camisinha!!! Propagandas preventivas começam a circular nas principais emissoras de TV, pelo menos um mês antes. Tudo isso para “proteger” a nossa juventude da “gravidez indesejada” ou de doenças sexualmente transmissíveis (DST). Para mim, a mensagem guardada nessa campanha é muito clara: o Ministério da Saúde adverte, DST pode aumentar os gastos do governo!! Por isso, e só por isso, use a camisinha!!
E assim seguem nossos jovens e também aqueles nem tão jovens...usando camisinha para preservar o corpo, mas se esquecendo de proteger a alma. Usam camisinha que não protege da tristeza...usam preservativos que não preservam da “solidão pós-transa”. E depois? Os anti-depressivos estão nas farmácias para buscar amenizar os problemas!!
Carnaval, tempo de tom maior...MUITO SOM em altos decibéis.Tempo de vigor, de agitação...MUITO CHURRASCO (afinal “carne-vale”!!) regado a MUITA CERVEJA!!
Chega, finalmente, o primeiro dia, passa o segundo dia, o terceiro dia e a alegria inicial parece se misturar com a gordura da picanha mal passada, com a bebida fermentada e com a zoeira do pagode. Então, um gostinho amargo que agita a cabeça termina, por vezes (não raras), em conversa fiada, fofoca, discussões sem sentido e até mesmo em longos repertórios de piadas mal acabadas. Daí as opções são variadas, você pode escolher: piada sobre a barriga dos tios, sobre as estrias das tias em seus biquínis maravilhosos, sobre os fracassos e defeitos dos outros...na verdade um repertório apimentado, repleto de pequenas vinganças e inflado de maldades.
O carnaval também traz uma sensualidade com conotação de coisa banalizada...está valendo tudo para aparecer nas telinhas! É tempo de assistir pela TV global as musas carnavalescas, tempo em que a ditadura da beleza dita as normas de corpos sarados...mulheres e homens impossíveis para nós, pobres flácidos mortais.
Nessa festa vivemos uma certa incoerência coletiva, talvez porque somos intensos demais e não saibamos viver esse momento de forma diferente! Saímos impregnados dos excessos cometidos, cada qual a sua maneira.
Agora, mais um carnaval acabou...as luzes se apagaram, as cores e os brilhos ofuscantes se perderam no cinza da quarta-feira de cinzas. E o que fazer com os sentimentos que ficaram...o que fazer com os excessos ou com o que restou? Será que restou alguma coisa...ou será que ficou só o vazio?
Não acredito no vazio de ninguém...alguma coisa deve ter restado, nem que seja a tristeza, a dor de uma saudade, o arrependimento de uma atitude. Acredito mais é nos exageros que entorpeceram as almas nesses poucos dias de “alegria”...será?
Teremos 40 dias para pensar sobre o que ficou...os nossos “excessos” ou os nossos “vazios”.


QUARESMA...TEMPO DE TRISTEZA?


Temos que mudar a concepção de tristeza que acompanha os 40 dias da Quaresma. Esse tempo me encanta, porque a sensação é que tenho uma oportunidade de começar de novo, de fazer diferente. Bate aquela lembrança do que é imortal em mim e a certeza de que não nasci pronta...venho me fazendo...por vezes repleta de alegrias, outras vezes de tristezas e, também, abarrotada de excessos e vazios preenchidos de coisas nem um pouco virtuosas.
Quaresma é tempo de recordar o quão humano somos, tempo de tom menor, de silenciar e olhar para dentro...ouvir o que a nossa alma tem para nos contar. É tempo de fazer revisão de vida e dos valores que vem ditando a nossa forma de ser.
Esse também é um momento de olhar para frente...“esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim” (Filipenses 3,13). Devemos dizer como Mário Quintana “Eu não tenho paredes, só tenho horizontes”.
Devemos entender mais sobre o que eu aprendi com Mario Sergio Corttella, grande filósofo dos nossos tempos: “os meus sonhos estão no meu horizonte e, à medida que caminho, tenho a impressão que eles se afastam. Assim, tenho que me colocar em movimento para me aproximar, cada dia mais, do meu melhor”.
Isso é quaresma para mim...um tempo para fazer a diferença! Tempo de olhar ao nosso redor, perceber o que o outro precisa e, o mais importante, entender que devemos caminhar na direção das necessidades desse mundo, buscando transformar a sociedade em que estamos vivendo para alcançar algo maior que as nossas próprias vontades.
Momento de transcender, ir além!! Tempo de olhar para o alto, mirar o coração de Deus e ouvir tudo o que Ele tem para falar ao nosso coração humano. É tempo de olhar no fundo dos olhos do nosso Jesus e descobrir, ou redescobrir, o encanto desse homem, filho de Deus, anunciador de um amor sem explicações. Amor que veio para aniquilar todo desamor e trazer a verdadeira paz para as nossas almas sedentas de infinito!

Que esse seja um tempo bom, suave e esclarecedor! As muitas perguntas sem respostas consistentes, que há tanto tempo habitam em nossas almas, poderão ser definidas agora!!

O convite para mais uma Quaresma de nossas vidas se repete: “Vamos ao deserto com Jesus”. Caminhemos ao nosso deserto interior, resultado dos desgastes nas relações, das indiferenças vividas, das amarguras sentidas, da solidão que dói. Nesse espaço poderemos avançar e ter um encontro com uma verdade maior, fazendo um milagre acontecer e, finalmente, fazendo germinar e florescer na areia do deserto de nossas almas!

Abraços a todos vocês!

Fátima Regina

Obs: Esse texto foi inspirado na introdução do Retiro Popular 2009, "Cristo nossa Paz", de Dom Alberto Taveira Corrêa, publicado pela Editora Canção Nova.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

MEU BEM...MEU MAL...


O bem e o mal, faces opostas da mesma vida, presentes ou ausentes em nosso cotidiano...somos livres para escolher o lado que queremos estar. Bem te quero hoje...mal te quero amanhã. O bem ocupa um espaço valioso, porém, o mal transita facilmente em nossos pensamentos, em nossas conversas, naquilo que deveríamos fazer, mas...não fazemos.
Pe Fábio de Melo nos diz que o mal nos faz esquecer...o bem nos faz lembrar. O mal nos faz esquecer quem somos e para que estamos nesse mundo...o bem nos faz lembrar a missão de ser humano em um mundo desumano! Vocês podem até me chamar de romântica, podem até achar que tenho uma fé simplória, mas eu creio no bem que a vida tem...acredito na bondade humana!
Um dos precursores do romantismo do século XIX foi o pensador Rousseau, filósofo iluminista, que naquela época proclamava a “bondade natural” do ser humano. Ele anunciava que homem e mulher nascem naturalmente bons e é na sociedade que acontece a contaminação pela maldade existente.

Para trazer as palavras exatas do filósofo: “Tudo sai bom das mãos do Autor das coisas, tudo degenera nas mãos do homem. O mal é fruto da liberdade humana, dá-se no plano social e não atinge a essência boa que trazemos como marca do Criador”. Muito bem Rousseau, você falou tudo!!

Vamos pensar um pouco sobre a explicação teológica da origem do mal, que parte do pressuposto da quebra da nossa aliança com Deus. O mal só existe quando nós escolhemos caminhar pelos “vales obscuros”, quando damos espaço para que ele se manifeste na nossa forma de ser. A nossa condição de liberdade nos permite essa escolha...todos os dias podemos eleger o bem ou o mal.
Quando cedemos à sedução das tramóias do mal a divisão acontece, as coisas se desagregam...a desunião vence nos pequenos e nos grandes acontecimentos. E tem um agravante: isso, mais cedo ou mais tarde, vai trazer conseqüências para o nosso corpo e para a nossa alma.O mal que pratico hoje será o meu sofrimento de amanhã. Isso é inevitável!
Santo Inácio de Loyola esclareceu sobre as táticas que o mal usa em nossa história. Ele pede para que fiquemos atentos, temos que aprender a entender quando o mal entra pela porta da frente e não notamos... ele é dissimulado e sabe disfarçar muito bem! Muitas vezes, e na maioria delas, nem percebemos ele entrando e tomando conta das nossas atitudes. As suas estratégias passam pelos nossos apegos, nosso instinto de posse das coisas, das pessoas...passam, especialmente, pelo nosso orgulho, nossa maior fraqueza e raiz mais profunda de toda a maldade. O resultado será SEMPRE muito sofrimento e a aniquilação da paz.
Tem um outro aspecto que eu gostaria de salientar: cresci ouvindo as pessoas batendo no peito e dizendo com orgulho: “eu posso afirmar que não faço o mal a ninguém!”...como se tivessem fazendo grande coisa. Tenho que admitir que essa frase nunca encontrou alento em minha alma...eu sempre achei que isso não era suficiente!! Hoje eu tenho CERTEZA disso!!!Na verdade essa é uma das poucas certezas que tenho...penso que quando digo que não faço o mal e já me dou por satisfeita, estou praticando, sutilmente, um mal ainda maior!
Estou certa de que não basta simplesmente não fazer o mal...eu PRECISO fazer o bem!!! Dizer que não faço o mal e cruzar os braços é coisa de gente sem coragem, para não dizer que é coisa de gente covarde. Essas pessoas querem se manter em uma zona de conforto e segurança e, normalmente, ficam indiferentes a tudo o que acontece e a todos os que estão a sua volta.
E assim caminha a humanidade: uns adeptos do mal (acredito que são poucos), outros fazem o bem (creio que a maioria) e há aqueles que procuram se afastar do mal (aí temos uma legião de pessoas!). Estes últimos são aqueles que assistem, passivamente, a vida passando pelo vão dos seus dedos. Acho que esses são os famosos “morninhos”, aqueles que Jesus disse que vomitaria. Gente que fica “em cima do muro”... gente insípida, inodora e incolor, gente sem graça!! Eu não quero ser assim...Deus me livre!!
O mundo precisa URGENTEMENTE de pessoas boas, gente INTENSA, gente preenchida de solidariedade, de desejos do bem e repletas de um amor sem explicações. Cada vez que amamos dessa forma o mal não tem vez e nem voz na nossa vida!!
Mas não se esqueçam de um detalhe: fazer o bem dá MUITO trabalho! Não pense você que somente o desejo de fazê-lo te fará uma pessoa virtuosa. O caminho do bem é cheio de tropeços, por isso não dá pra caminhar sozinho. Temos que fazer parcerias nessa trilha da beneficência...é a união que pode fazer a vida ficar melhor!! É aí que está o encanto e o prazer em ser bom...é na união que encontramos a alegria em entender que “Juntos Somos Mais”...mais felizes, mais completos, mais inteiros.
O ser humano é um projeto divino e eu acredito nesse sonho!! Afinal, o Arquiteto do Universo não projetaria algo defeituoso. Só precisamos tomar consciência de que esse projeto precisa de cuidados, necessita ser restaurado todos os dias. E quem vai cuidar...quem vai restaurar o mal que a vida tem? Eu, você...está em nossas mãos, não como detentores do poder sobre o destino da humanidade, mas como seres pequenos que somos, instrumentos de Deus na construção de um mundo onde o bem possa prevalecer.
Eu preciso tomar consciência disso tudo, preciso conhecer o “meu bem” (meus potenciais, minha missão), também devo entender o “meu mal” (minhas sombras e minhas trevas) para, então, renovar a minha vida e poder escrever, todos os dias, uma história mais bonita!

Abraços a todos
Fátima Regina